Uma experiência profundamente humana

Sobre a capacidade do cinema em estabelecer relações simbólicas com o mundo, chegamos em Estrangeiro (Paraíba), obra dirigida por Edson Lemos Akatoy, cuja força vem de sua imensa poesia imagética e sonora. O filme precisa ser visto com todos os sentidos antenados e despertos ao nos mergulhar em um universo de sensações em vez de nos solidificar certezas.

As incertezas de sua personagem são muitas, sobre seus sentimentos para com o passado, com as pessoas e com sua sensação de ser estrangeiro em qualquer lugar em que se esteja. Essa ambiguidade nos arremessa em um mar de imprecisões que não serão saciadas (o que é interessante, por transferir para a subjetividade do espectador as respostas ou até mesmo a formulação de novas perguntas), todas contaminadas por uma poesia ilimitada.

Há em Estrangeiro um apego à natureza, uma rendição às extensas paisagens que amplificam uma sensação de solidão e desamparo. Todavia, é justamente esse desamparo o que mais conecta o filme ao nosso mundo de hoje, tão marcado pelo engajamento de pautas urgentes.

Há sim uma urgência de que paremos com tudo e mergulhemos em nós mesmos, e essa pode ser uma reflexão importante proposta pela obra. O tempo estendido e o ritmo sereno das cenas nos convidam a uma atmosfera de contemplação. E quem embarcar nela viverá uma experiência sensorial e profundamente humana que só o cinema consegue nos proporcionar.

Curadoria

III MOSTRA SESC DE CINEMA